Se você curte trap, rap ou está sempre ligado nas batidas pesadas que bombam nas quebradas e nas festas underground, então precisa conhecer o Grime — um estilo que vem crescendo forte por aqui e já se tornou referência quando o assunto é música urbana de verdade. Hoje o papo é com a Peroli, DJ brasileira que ve dominando o estilo.
Direto do subúrbio de Londres, o Grime nasceu nos anos 2000, com rimas rápidas, batidas aceleradas e aquele grave sujo que gruda na mente. Mistura de UK garage, dancehall, e drum and bass, o som se tornou a voz de uma juventude que quer se expressar sem filtro, sem regra e com muita atitude.
Hoje, o Grime não é só um gênero — é um movimento cultural. No Brasil, ganhou força principalmente nas mãos de artistas e DJs que estão conectados com a cena global, trazendo identidade, vivência e representatividade para as pistas e para os fones.
A cena do Grime no Brasil: visão de quem faz o som acontecer
A gente trocou uma ideia com a Peroli, uma das referências do Grime no Brasil. Com sets autênticos, presença forte nos palcos e envolvimento direto com o movimento, ela compartilhou com a gente sua visão sobre o gênero no país, os desafios da cena independente e a importância de manter a essência do som viva.
Direto do ABC Paulista, a Peroli é de São Bernardo e vive em São Paulo desde 2011. Começou no hip hop como MC, mas foi em 2018 que se encontrou de verdade nas pick-ups. Além de DJ, ela é formada em Letras e também é professora de inglês. Peroli tem um papel importante na cena do Grime: faz curadoria musical para gravadoras e programas de rádio dentro e fora do Brasil, sempre fortalecendo artistas independentes daqui. Ela é a ponte entre a quebrada e o mundo, conectando eventos, sons e talentos que merecem ser ouvidos.

Se liga na entrevista exclusiva:
1 – Você sempre teve o Grime como foco ou foi algo que descobriu com o tempo? O que te atrai nesse estilo e como ele influencia seu trabalho como DJ?
– Foram amigos DJs e produtores que me apresentaram esse mundo da música eletrônica. E eu me apaixonei, porque eu pensava: ‘Meu, isso não é rap, isso não é hip hop, isso aqui é outra coisa, é outro movimento. E eu me identifico muito mais, então vou pesquisar sobre isso.’
Meu contato com a música britânica começou lá atrás, ouvindo Amy Winehouse. Eu cresci uma criança meio emo, então gostava de bandas pop, indie, pop rock.
2 – A gente vê que o Grime ainda é um gênero em crescimento no Brasil. Como a Peroli enxerga a cena aqui e o que falta para ganhar mais espaço?
– Durante um tempo, a gente considerava que havia uma cena aqui. Tínhamos vários artistas fazendo, só que, como tudo na música no Brasil, as pessoas seguem aquilo que parece que vai trazer algum retorno — tipo hype.
Quando algumas pessoas perceberam que o Grime não era um gênero que traria isso pra elas, a galera migrou pra outras coisas. Conheço muita gente que começou na época do boom do Grime, depois migrou pro Garage, e mais tarde foi fazer House, Trap, entre outros estilos. E tá tudo bem, tá tudo certo.
Mas hoje, eu já não acho que a gente tenha uma cena tão consolidada e unificada.
3 – Como é o processo de montar um set para um público que, às vezes, pode não estar tão familiarizado com o Grime?
–Eu ainda toco o que eu quero ouvir. Tipo assim: o que eu gostaria de ouvir? Eu sinto que o meu papel, enquanto DJ e curadora musical, é trazer coisas novas pra pista. E aí eu trago também a minha bagagem como licenciada, da minha formação.
Eu tô ali como uma pessoa que, querendo ou não, vai ensinar alguma coisa, seja com uma música que a pessoa vai gostar ou não, mas estou apresentando uma curadoria que ela provavelmente não ouviria em casa. Tipo, ela não ia entrar no Spotify e dar play naquilo.
Então, a minha motivação é sempre trazer algo que as pessoas não esperariam ouvir.
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4 – Vimos que seu trabalho te levou para alguns lugares interessantes fora do Brasil também, você tocou na Europa, e Londres é um dos berços do Grime e da música eletrônica. Como foi sua experiência tocando lá?
-Durante a pandemia, eu fiz muito contato com pessoas de lá e acabei furando essa bolha do Grime. Já toquei em evento de grime, de amapiano, de festa britânica que toca funk, então fui para outros nichos também. Londres é muito pequena, acontece muita coisa o tempo inteiro e tem muita gente, então eu tento sempre fazer coisas que eu não faria aqui.
Teve um evento gravado que aceitei tocar, que inclusive foi um dos meus melhores sets gravados. A galera chamou duas passistas de escola de samba pra dançar enquanto eu tocava. Pra mim foi super inusitado, mas eu não enxerguei de forma estereotipada — enxerguei como um carinho. O dono da casa falou: ‘Ah, já que vem uma brasileira, vou trazer duas dançarinas pra dançar enquanto ela toca’. Achei isso muito legal.
Sempre é uma experiência muito boa. Por ser uma pessoa de fora, eles acabam tentando fazer de tudo pra que a minha estadia seja boa. Sempre me trataram muito bem, fui muito bem recebida.
5 – Para quem quer entrar nesse meio como DJ, que conselho você daria?
-Olha… de conselho eu sempre falo a mesma coisa: bebe água, descansa quando puder e não dá atenção pra gente estúpida. Não faz essa galera famosa, sabe?
O ato de beber água é uma meditação, querendo ou não, porque você para. Você para tudo que tá fazendo, você nem consegue respirar direito — trava ali, bebe a água.
É nesse momento que você pausa, pensa. Parece doido falar assim, mas é que, às vezes, você tem uma ideia, encontra um norte. Você senta, ou levanta, vai no banheiro, vai na cozinha, bebe uma água… e consegue ter uma clareza das ideias. Você realmente para e respira.
6 – O que podemos esperar da Peroli para os próximos meses? Algum projeto novo vindo aí no Grime?
-Sobre projetos de futuro, eu tenho a Perifa no Toque, que é um projeto, uma empresa. A gente tem uma festa de funk e vai lançar o projeto Garupa, que serão cinco dias de workshop entre abril e maio. No dia 3 de maio tem a festa de 6 anos da Perifa, e o último workshop será o meu, o Peroli Convida — na verdade, é um talk onde eu falo sobre a minha carreira.
Para a primeira edição, convidei duas pessoas de Londres que são brasileiras: o Redineas, que me ensinou a tocar, e o Kleiton Bassi, técnico de som. A ideia é passar conhecimento para DJs, porque a gente sofre muito na mão de técnico de som no rolê.
O workshop de maio vai ser sobre planejamento, comigo e o Eduardo (@superestrago), que me ajudou no começo da carreira. Em breve, teremos Kelvin Macedo (Fundador e CEO da Murb Brasil) falando sobre o app Murb, música e tecnologia.
E em julho, vou pra Londres, vou fazer minha tour e tocar no Outlook Festival, na Croácia. É isso, valeu!
O Grime é real, porque é direto. O estilo conecta pessoas, histórias e vivências. É resistência, é arte, é conexão cultural em batida. Fica de olho que o movimento vem crescendo — e se você ainda não sentiu o poder do Grime, a hora é agora.