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Funk: o preconceito com o funk enquanto cultura

o preconceito com o funk enquanto cultura

O funk, desenvolvido no final da década de 1970, foi conceituado como uma prática musical associada à expressão cultural do chamado baile funk, que nada mais era do que uma festa organizada pela equipe de som de um clube suburbano.

Na época, festas como a Paradox apostaram em uma faixa com soul music para avançar o movimento Black Rio, inspirado nos bailes que aconteciam nos Estados Unidos na mesma época.

Os produtores abraçaram a ideia de valorizar a cultura negra e queriam formar artistas étnicos, mas a rápida mudança da indústria para o estilo disco só levou à ascensão de Tim Maia.

A cultura brasileira contém vários elementos internacionais e de outros países e culturas, enquanto o funk, em nível internacional, tem seus elementos negros essenciais, principalmente vocalizações e instrumentos.

Ao acompanhar as tendências estadunidenses, o novo estilo musical tentava se aliar ao hip-hop da cultura negra. A concorrência entre os DJs era grande e muitos buscavam por referências viajando à Miami, nos Estados Unidos, cidade onde surgiu a vertente de ­hip-hop chamada de Miami Bass.

O estilo se destaca pelo ritmo rápido, bumbo frenético e letras sexualmente explícitas. Em 1987, os bailes funks cariocas eram cerca de 700 por fim de semana, agregando no mínimo um milhão de jovens no Rio de Janeiro. Nesta época, os bailes eram realizados em ginásios de esportes e quadras de escolas de samba.

Enquanto a classe média alta via o rock nacional como preferência, o funk incorporava músicas eletrônicas com graves pulsantes e muito dançante, se tornando o lazer da juventude pobre da cidade junto ao pagode. Entre as inovações da época, surgem os MCs, sigla para “mestre de cerimônias”, responsáveis por interpretar a letra e interagir com o público através do microfone.

É então que os novos artistas deixam de tentar reproduzir as músicas estadunidenses e começam a criar suas próprias letras, falando sobre a vida cotidiana da favela e da sua comunidade, também apelando pelo pedido de um baile pacífico.

No final dos anos 1980, a violência das festas funk começou a ganhar a atenção da mídia, e o preconceito contra a música e os estilos de festa aumentou. Enquanto o MC Marlboro impulsionou a carreira de inúmeros artistas com compilações, o MC Grandmaster Raphael do Furacão 2000 propõe um festival de cozinha, onde os frequentadores da dança confeccionam e interpretam letras.

A partir de 1990, as festas passaram a ser ao ar livre ou na rua, e a imagem do MC ganhou muita atenção, estabelecendo uma imagem de sucesso artístico para qualquer jovem do gueto.

Embora muitos participassem de competições do festival para fins pacíficos, a competição intensificou a agressão entre alguns jovens, levando à violência. Quando gravada pela mídia, a imagem do funk foi diretamente associada aos arrastões de 1992.

O acontecimento foi um embate entre facções rivais oriundas de bairros periféricos na Praia do Arpoador, e onde a elite carioca se chocou com ritual de luta comum da periferia. Devido ao impacto negativo causado na população dos bairros nobres e a grande divulgação da mídia, o marco ficou conhecido como arrastão e os envolvidos foram taxados de assaltantes e relacionados aos bailes funk.

Assim, a imprensa começa a marginalizar o gênero perante a opinião pública, principalmente a partir de 1995, quando surgem acusações que ligavam os bailes com o comércio varejista de drogas. Segundo Alves, “o funk é mal visto pela perspectiva de onde ele vem, pois, quando ele chega na mídia, é ligado a questão da violência”.

As pessoas, muitas vezes, nunca foram num baile funk, mas veem a representação social da favela na televisão, que torna mais fácil negar a desigualdade social e o lugar do funk como uma expressão da realidade.

Devido as inúmeras proibições aos bailes funk por parte do governo municipal, exigindo a vistoria policial durante os eventos, as festas foram acolhidas pelos líderes do morro e passaram a acontecer nas ruas da comunidade. É quando surge o proibidão, vertente do funk que usa palavras de baixo calão, fala de sexo explícito e sobre drogas, algumas vezes exaltando facções criminosas.

Cria-se, então, o hábito de criar duas versões da música, uma aceitável para o mercado e uma para cantar nos bailes. Enquanto as leis tentavam silenciar o movimento, os grandes veículos de comunicação popularizaram o ritmo fora da favela. O funk conquistou espaços na classe média e alta, e entra no século XXI com um público mais diverso.

E você, sabia dessa história não tão conhecida do Funk?

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